O QUE ELE É?
Quem é esse Jesus para nós? Um “visionário apocalíptico” que podemos tranquilamente deixar de lado na historia? O “coitado salvador da humanidade que pensava poder redimir a humanidade” e acabou na cruz, como “exemplo de advertência” para tal “loucura”, como a ele se refere com certa melancolia Heimrich Heine em “Alemanha, uma lenda de inverno?” O “superstar” do “show business” eclesiástico e outros? Ainda vale a pena segui-lo e trilhar o seu caminho? Ele que em Israel fracassou contra a presunção dos devotos da religião da Lei e os interesses do poder da alta camada religiosa e que na “sua Igreja”, ou melhor, nas “suas igrejas” não tem sorte muito melhor?Mas não compartilhar ele este destino com todas as pessoas da historia humana que ousaram mudar as condições dominantes – mudanças que não podemos abandonar ao campo de cadáveres da historia, visto que todos necessitamos dela para poder sobreviver “entre lobos” numa sociedade assassina (Lc 10,3), sem também nos tornamos lobos? O que faz com que ele seja importante para nós? O que trouxe ele de salvífico na historia geral da perdição, ele, o crucificado Galileu da desprezada terra dos judeus, a quem um descendente posterior do seu povo, Franz Kafka, chamou de um “abismo cheio de luz”? É necessário ir atrás dos vestígios, eventualmente passar a limpo a historia da sua acolhida. Não nos servem mais os inúmeros nomes que lhe foram dados. Para muitos estes se tornaram palavras vazias. Temos que buscá-la na sua historia, ousar sempre de novo o “pulo de volta do tigre” ao passado, como exigia Walter Benjamin, se quisermos captar aquele momento critico em que o salvífico brilha como raio.
Cada um de nós só pode conseguir isso a seu modo particular. Aqui não se pode decretar nada. De minha parte tentarei a seguinte resposta.
Jesus ousou viver a visão nascida da miséria e do desespero do seu povo oprimido pelas grandes potências da época e escravizado pelos seus próprios dirigentes, aquela visão de um mundo em que vale o dinheiro de Deus e não o dos vencedores e a todos é dada a possibilidade de uma plena felicidade. Com efeito; o que vemos somente são pessoas que por suas razões entenderam que o que ele é; não passava do filho do carpinteiro, do homem da discórdia da Lei mosaica para outros, do baderneiro em meio uma Roma falida e escarnecida, de convictos ideais de Democracia; o que vemos é a mesma multidão que adquiriu alguns benefícios em meio às curas, e num piscar de olhos estão assistindo e se divertindo com sua jornada pelos becos estreitos empoeirados rumo ao Golgota. Dessa forma; quem é ele para nós, o que representa a nós, a igreja entendeu sua mensagem ao longo da historia ou simplesmente nos escondemos nas montanhas do nosso egocentrismo, o que entendemos dele em nós; talvez não seja como aqueles a quem ele tanto se defrontou com sua época? E se de fato; ele vive-se em nossos tempos? Como católicos e protestantes, que divergem a idéia de que os judeus o mataram pergunto-me, será que nós não faríamos a mesma coisa em nosso tempo? Ele com seus ideais seria bem visto na sociedade? Ele com sua pregação seria aceito em nossas tribunas? Com certeza mataríamos a ele também com seus pensamentos revolucionário, com sua ousadia e sabedoria de mostrar à realidade desse mundo a beira do Caos.
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